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Veneza, 26 de Agosto de 2007

Encontramos os primeiros Portugueses no comboio de Florença para Veneza. Hora de almoço, inter-cidades cheio, e eis que surgem o Bruno e a namorada a rir de uma rapariga loira que, aparentemente, os seguia desde Budapeste. Os dois estavam quase no fim do seu interrail e, vindos de Ljubljana, preparavam-se para ficar quatro dias nos Alpes Austríacos a, diziam eles, relaxar. Espertos, que eles são.



Mas enquanto uns Tugas se preparavam para umas noites em busca de calor humano graças aos glaciares alpinos, outros chegavam a uma Veneza repleta de sol, folia e muita, muita, muita gente. É inacreditável a quantidade de turistas que, como nós, inclui Roma e Veneza no seu itinerário, fazendo assim com que a magia das cidades se perca um bocado. Por isso me flagelo, por contribuir para que as cidades belas sejam destruídas por milhões de turistas sedentos de viver um pouco do que as mais conhecidas cidades italianas foram em tempos.



Comentários desnecessários à parte, Veneza é surreal. Sustentada por centenas de ilhas, ainda que protegidas pela gigante barreira de areia que é o Lido e as suas praias, a Rainha do Adriático não tem certamente a vida e o poder que possuía quando, no século XII, era centro de trocas comerciais entre a Europa e o Império Bizantino. Ainda assim, ninguém consegue ficar indiferente às incontáveis pequenas casas construídas nos estreitos canais, às prodigiosas pontes e a toda uma atmosfera que nos deixou enternecidos por uma tarde inteira, tempo mais que suficiente para absorver Veneza e desejar ser um Veneziano numa vida passada.



O truque em Veneza é ignorar as ruas mais importantes, por onde se deslocam infinitos turistas durante todo o dia e partir à descoberta do labirinto que é a cidade da água, das pontes e da luz. Uma monumental igreja perdida num lugar de ninguém, uma janela adornada com motivos impossíveis, um portal de ferro enorme com saída para um canal, escadas em caracol, varandas e varandins deliciosos, heras, flores e mais flores, poços inactivos mas que cativam o olhar, uma velha estende a roupa à janela, esta rua não tem saída, repara bem nas máscaras douradas que este homem faz para o carnaval de Veneza, e este pequeno café plantado na margem do canal, ó não, a Piazza di San Marco está atulhada de gente, mas vê bem como as pombas voam para os nossos braços em busca de milho, e aquilo não é a Ponte dos Suspiros? Ai.



Por vezes falam comigo dizendo isto e aquilo sobre o que escrevo. Nada é verdade. Porque me é impossível descrever o fascínio, detalhe a detalhe, da cor das flores de todas as janelas da cidade, da cascata de telhados barrentos, do creme e laranja das casas que há séculos assim se mantêm, dispostas uma por cima das outras como que partilhando o mesmo sonho, o de viver por entre gôndolas e canais, mármore e granito, histórias que certamente não têm fim.



À noite, exaustos mas completamente derretidos por uma cidade à qual é impossível ficar indiferente, com cento e cinquenta fotografias do possível e impossível de fotografar, deitamo-nos junto ao Canal Grande, com a estação atrás de nós e uma paisagem inesquecível pela frente, em busca das estrelas cadentes que iluminavam o céu incrivelmente brilhante, enquanto cá em baixo o azul dos bares se misturava com o roxo das pontes e com todas as demais cores que cada uma daquelas pessoas, que connosco partilhava o momento de magia, imaginava inocentemente dentro da sua cabeça.

2 Comments:

Blogger nuno_foros said...

gosto tanto deste blog!
sabe tão bem!




obrigado

:*

September 25, 2007 at 12:11 AM  
Blogger A. said...

É uma doçura ter-te por aqui (:

(embora o meu cotovelo doa descontroladamente *cof*)

Não tenho tempo para estar no msn como deve dizer. Por isso, fica aqui a palavra e um beijinho.

Até já (:

September 25, 2007 at 11:53 PM  

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