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Dubrovnik, 29 e 30 de Agosto de 2007

Estamos em Dubrovnik. Mais uma noite mágica se abre perante o olhar de cada um dos visitantes desta Pérola do Adriático. À minha frente, um Americano de bigode castiço toca de uma só vez guitarra, harmónica e bateria, ao mesmo tempo que canta e encanta um grupo de trinta pessoas que se sentaram no meio de uma enorme zona pedestre construída em mármore, o mais belo de todos os passeios, aquele que nos leva directamente à mais serena das utopias. Agarrei-me à noite de 29 de Agosto com todas as forças que pude, prendi-me com amarras de desejos a uma cidade que, certamente, foi construída com a perfeição como musa.



A viagem pela costa da Dalmácia abaixo, desde Split até Dubrovnik, é difícil de suportar. Imagina uma encosta brava com centenas de metros de altura, com o azul do céu a lutar, sem sucesso, com o azul do mar, explicado pelo solo rochoso, sem areia. Imagina uma estrada não muito larga que corta esta encosta a meio, que deambula pelas curvas da montanha sempre sem perder a apetecível costa de pinheiros mansos e – uma vez mais – água incrivelmente transparente. Imaginem ilhas do tamanho de gigantes, atravessadas por uma fina bruma. Imaginem um pequeno desvio, durante as cinco horas, para apreciar um enorme lago com uma cor que o meu português jamais conseguirá descrever, de um azul como não pode existir. Imaginem mais montanhas, mais costa, mas pessoas a tomarem banho nestas praias inacreditavelmente paradisíacas. Imaginem as praias. Imaginem a água. Mas vocês estão dentro do autocarro, não podem sair a não ser na pequena paragem em plena Bósnia (pois, por estranho que pareça, o distrito de Dubrovnik encontra-se separado do resto da Croácia, cercado pela bela sereia que é a Herzegovina e os incríveis fiordes do Montenegro). Imaginem novamente a praia.
Imaginem o interior do autocarro, repleto de almas sedentas por um mergulho naquela água de diamantes. A viagem pela costa da Dalmácia abaixo é realmente difícil de suportar.



Chegados a Dubrovnik somos abalroados uma vez mais por Croatas sedentos por nos dar um “Sobe”. Uma vez mais desamparados, sem reserva, depois de negociarmos com todas as velhinhas simpáticas e homens desdentados, optamos pelo apartamento mais central e, felizmente, um dos mais baratos. Não nos viríamos a arrepender. Depois de uma viagem de cinco minutos de autocarro, entravamos na fortaleza de Dubrovnik, coração da Dalmácia e, sem dúvida, uma Pérola que todos devem ver uma vez na vida.



No fundo de um enorme vale por onde o resto da cidade se abre nos seus palácios imperiais e jardins que em tudo fazem lembrar a cidade de Sintra, descansa uma bela fortaleza, de cor branca, com um contraste impressionante para o azul do mar que a rodeia. Depois de passar o portão principal, e as imponentes muralhas, é-nos revelado um outro mundo, com uma arquitectura nitidamente medieval e barroca, de pequenas casas de pedra branca, chão de mármore, fontes, igrejas, palácios e uma torre que muitas saudades vai deixar. Dentro das muralhas, a cidade fervilha com o turismo, mas é um turismo que não destrói, que não custa, porque, recorda-te, em Dubrovnik não estamos neste mundo.



Manhãs numa praia com milhares de seixos que o calmo Adriático não consegue tornar em areia, noites passadas com uma cerveja na mão e o fantástico Jimmy a fazer a festa para deleite de cada um de nós que assistiu, fins de tarde nas rochas, com o fantástico mar por baixo de nós e a magnifica ilha de Lokrum a completar a pintura que ostenta o céu e o abismo do oceano indigo. O brilho nos olhos dos dois miúdos com quem lutei a ver quem conseguia fazer mais barulho com o apito (?) que o Cláudio me deu. O Lindorfo refastelado na praia. O risotto de lulas. Os miúdos croatas nas rochas com a sua erva e a sua guitarra enquanto eu olho o céu estrelado, pensando na noite que não pode acabar. Estamos em Dubrovnik, o Jimmy, nos seus pequenos passos para ter o efeito perfeito na sua bateria, com um sorriso cúmplice para a plateia, pede que todos o acompanhem no refrão da Let it Be. Whisper words of wisdom, let it be.

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