#10

Budva, 1 de Setembro de 2007

Estou a nadar em pleno Mar Adriático, de um lado o céu índigo salpicado por pequenas nuvens brancas que ameaçam desaparecer num pequeno susto e do outro um areal castanho acompanhado por uma escarpa pintada de verde. Por baixo de mim, a dez ou vinte metros de distância, uma formação rochosa causa-me uma das maiores sensações de vertigens que jamais tive, fruto de uma água límpida que me mostra todos os peixes e corais que habitam nestas águas cor de pérola na praia de Mogren.



Estou na Riviera de Budva, o destino balnear mais famoso de todo o Montenegro, frequentado também por muitos Croatas e Sérvios que procuram um bom, barato e translúcido descanso. Budva faz-me recordar um pouco do Algarve da minha infância, com as suas construções toscas e desprovidas de qualquer sentido, um mar de gente que habita as praias e uma parafernália de tendas com tudo para vender ao longo de toda a marginal. Cassetes de sucessos tradicionais montenegrinos que ostentam na capa fartos e lustrosos bigodes, nas ruas, incontáveis Mercedes, Humms e Mustangs sem fim, consequência directa de uma máfia estabelecida na Sérvia com dinheiro de sobra para viver à Rei por estas terras, pessoas simpáticas mas sempre um pouco rudes, peixe grelhado e uma confusão própria de um país acabado de nascer. E no entanto, foi-me impossível ficar indiferente àquela praia e às pessoas que por ali conheci.



Mais do que a água, a aventura de andar quinze minutos entre rochas e mar aberto, numa tentativa infrutífera de chegar a outra praia mas com a agradável surpresa de encontrarmos uma vista fantástica, partilhada por pessoas que saltavam de um rochedo a vinte metros de altura, foi algo de inesquecível. Tive pena de não saltar, mas a façanha de chegar aquela zona deserta, depois de muitas escorregadelas e experiencias de quase morte já tinha sido de mais para mim.



De Budva ficam também saudades da noite que durou horas e horas sem fim, na companhia dos outros backpackers que connosco partilhavam a pousada. Guitarras, idas sem fim à mercearia noctura do Djoko (um simpático Montenegrino de homossexualidade reprimida) em busca do liquido dourado, conversas imensas com a bela Katie e com o recatado homem de Hong Kong que, com os seus quarenta e dois anos, decidiu largar tudo para dar a volta ao mundo. No final, fiquei um pouco desapontado com a cidade, esperava mais luz, mais festa, mais. Mas no entanto, esta estadia valeu pela água onde nadei, pelas rochas que escalei e pelas magníficas pessoas que conheci através de jogos e dois dedos de conversa. Venham mais dias como este.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home