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Ljubljana, 27 de Agosto de 2007

Uma semana já tinha decorrido de um interrail inacreditavelmente mágico. No entanto, apesar de querer absorver cada pequeno detalhe que as cidades visitadas me ofereciam minuto a minuto, era com um nervosismo miudinho que aguardava o adeus dos ares latinos. Espanha, França, Itália, nenhum destes países me ofereciam a possibilidade de sonhar como eu queria, graças às notícias, imagens e histórias que deles ouvimos diariamente. No entanto, para um Português pouco viajado, uma visita à pequena Eslovénia era motivo de festa, sinónimo de início de viagens onde tudo iria ser novo para mim. Diziam-me que Ljubljana era um encanto, e na minha cabeça formava a ideia de uma pequena vila com casas salmão, repleta de nuvens de neve e gente bonita. Na madrugada de dia 27, escrevi no meu diário que o Interrail ia começar verdadeiramente a partir daqui. Não me enganei.



O comboio que nos levou desde Veneza até Ljubljana tinha como destino final Budapeste, motivando por isso a quantidade elevada de backpackers mal-amanhados, malcheirosos e cheios de histórias para contar. Dez minutos de viagem e já a conversa com a Italiana e o Turco sentados ao nosso lado ia longa, enquanto os passageiros com destino à capital Húngara faziam questão de ressonar mais alto do que qualquer um de nós conseguia falar. O Turco, de seu nome Emre, partilhava connosco tanto o destino da viagem como a falta de sítio para onde ficar. Por isso, quando por volta das 2 da manhã caímos na gelada Ljubljana, éramos três desamparados à procura de sítio para dormir. Hostel encontrada, cama feita, sono dormido. A ternura por cada uma das distintas culturas da Ex-Jugoslávia ia começar aqui.



Depois de lavarmos alguma roupa e tomarmos um saboroso pequeno-almoço, demos um pequeno passeio pela história encantada que é Ljubljana. O centro da cidade é o mais acolhedor que alguma vez vi. Pequenas casas da época em que Napoleão decidiu fazer de Ljibljana uma das suas capitais, verde em todo o lado, um pequeno rio rodeado por muros brancos e passeios largos, vendedores, cafés, bares e restaurantes modernos e incrivelmente bonitos. Pessoas bonitas. Pessoas simpáticas. Pessoas que ficam ofendidas por lhes perguntarmos se falam inglês, uma vez que é coisa comum por aqueles lados. Comida estranha mas muito saborosa, feita à base de caça, frutos dos bosques e rolos de queijo. Cerveja barata, tudo barato. Não queríamos sair dali e porém, apreensivos, decidimos ir ver o que era esse tal Lago Bled, a 50minutos de comboio da capital.



Bled é uma pequena vila situada no início dos Alpes Julianos. Seria igual a tantas outras vilas que existem nos Alpes ou nos Pirenéus, com as suas casas brancas de telhados íngremes e janelas de madeira, não fosse o enorme Lago de água cristalina que, com o mesmo nome da vila, vê em si recaírem todas as atenções das gigantes montanhas, do castelo do cimo do abrupto penhasco, da pequena ilha com uma elegante igreja ao centro, das aves de rapina que por lá cirandam e de todos os alemães, austríacos e eslovenos que por lá passeiam. Mas mesmo sendo uma das atracções principais da Eslovénia, Bled é pacata, com um ambiente extremamente relaxante e pelo qual é difícil ficar indiferente. Remei. Remei, remei, remei, remei, toquei na água azul celeste, sorri e desejei que a vida de um mundo inteiro fosse como aquela hora que passei numa paisagem desconcertante. Apaixonei-me pelas montanhas. Voltamos a Ljubljana. Apaixonei-me pelas montanhas e por Ljubljana. O prazer que me deu o passeio pela cidade durante a noite, com os bares apinhados, com os portugueses de bigode vindos da Croácia e os portugueses de sotaque Lisboeta que escolheram esta cidade como destino ERASMUS. Sonhei no meu ERASMUS. Parei de sonhar e foquei-me naquilo que estava a viver naquele momento, no rio que calmamente banhava a vida de toda aquela pacata mas energética e excitante cidade.



Na manhã seguinte, rumamos para Zagreb por entre paisagens hipnotizantes de escarpas e rios azuis. Um ciclista na estrada vazia pára absorto, observando todo o verde impossível de descrever que o rodeia. Dois trabalhadores numa pedreira, de dentro do seu fato-macaco vivem o seu dia-a-dia sem reparar na deslumbrante paisagem montanhosa que têm atrás de si. A minha má caligrafia descreve a viagem, embalado pelo cantar de um comboio que me leva de paraíso em paraíso. Que não acabe nunca. Ali smo lahko prijately.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

gostava de ter feito o interrail ctg...mas ainda bem que és dotado de uma descrição tão boa que me sinto como se estivesse lá.
Obrigada pelo postal...também tenho saudades tuas.
Espero que tenhas dado beijinho a Ljuljana por mim. :D
beijo grande pa ti

September 26, 2007 at 2:10 PM  
Blogger Simão said...

Viva, viajante!

Espero que continues a aproveitar a bela Europa!

Gostava só de fazer uma pequena crítica, tu que és um rapaz tão colorido e tão animado que faz toda a gente sentir-se bem quando estão contigo devias dar mais alguma cor ao teu blog, as fotos a preto e branco são giras mas eu gostava de ver as cores que visitas!=)

Mas é só uma opinião pessoal!

Bom Erasmus!

*

September 26, 2007 at 4:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Zé...
K a tua viagem continue recheada de encantos e encontros e que seja tão inesquecível quanto as tuas palavras.
Bjs
Sara**

September 26, 2007 at 4:48 PM  

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