#16

Nürnberg, 10 de Outubro de 2007

Desde há muito que desejava ardentemente viver sozinho, não por não ter liberdade no Porto, porque a tinha, mas sim porque sou adepto da mudança regular. O meu organismo não foi feito para viver mais do que um curto período de tempo da mesma maneira, preciso de conhecer pessoas novas ao mesmo tempo que descubro melhor as que conheço há mais tempo, tenho de me perder por ruas que me provocam um nervoso miudinho por me estar prestes a perder, sinto necessidade de ser ignorante perante tudo, quero sempre mais. Por isso, estudar seis meses fora de casa não me podia parecer melhor. Viver seis meses no meio de uma cultura que em tudo é diferente das minhas convicções e costumes, com uma língua que me é imperceptível, com olhares que me fazem tremer de dúvida sobre se o que estou a fazer é ou não bem aceite, é uma aventura que não podia deixar passar. Prometi a mim mesmo aproveitar este sonho ao máximo, não deixando passar nenhuma oportunidade, para o bem e para o mal. Não ando a cometer loucuras, não dou beijos a todas as senhoras de idade que passam por mim, não meto conversa com casais de respeito nos comboios, perguntando-lhes informações sobre as suas medidas contraceptivas. Porto-me bem. Comporto-me. E desfruto desta utopia ao máximo.



Um castelo medieval guarda, da imponência da sua colina, um vasto mar de telhados docemente inclinados, suportados por belos edifícios que em tudo nos lembram as pequenas histórias que líamos quando miúdos, onde o pequeno Pinóquio passeava na sua inocência de madeira por uma bonita cidade de casas caiadas de branco com intromissões de madeira espalhadas em xadrez pela sua parede. As ruas, largas e sem lugar para automóveis, enchem-se diariamente de todo o tipo de músicos, rapazes de bicicleta, mulheres abraçadas a cestos de vime que acabam por encher de fruta, vegetais e ovos nos mercados do centro, belas raparigas alemãs sob o qual o atento, e por vezes furtivo, olhar Português se perde diariamente, pequenas esplanadas para fazer uma pequena pausa, talhos com as suas centenas de diferentes tipos de salsichas alemãs, jardins de cerveja com os seus milhares de distintos sabores. Pelo meio da cidade, um pequeno rio faz as maravilhas das pessoas que diariamente atravessam as dezenas de pontes que ligam a Sebalder Altstadt da Lorenzer Altstadt, mostrando em cada detalhe a beleza de viver numa cidade que abraça a natureza de uma forma elegantemente carinhosa. Árvores adormecem num rio onde cisnes, gaivotas e cómicas fulicas se divertem na sua labuta diária por peixe fresco, lado a lado com edifícios seculares que, apesar de destruídos pela guerra, foram restituídos a vida para fazer lembrar a todos que uma cidade não é o espelho daqueles que por vezes a escolhem como símbolo de um terror passado. Faz hoje um mês que o paraíso me levou como seu. Aos olhos dos poucos ou nenhuns que possivelmente lerão isto, ei-lo, pois então.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eu leio! :D ***

October 12, 2007 at 2:26 AM  

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