#19

Nürnberg, 16 de Outubro de 2007

Seis copos e duas garrafas de vinho partilham o destino final, vazios em cima de uma mesa onde as velas queimam as últimas gotas de um pequeno lago de cera, acanhadas lanternas que lançam para nós o calor necessário de um final de noite perfeito. São duas e meia da manhã. Raios, a noite de sono vai ser curta. As primeiras notas de Breath Me embalam cada um de nós em direcção à cama, depois de um serão recheado de burritos australianos, música boa, música má, karaoke, guitarra, vozes desafinadas, alguma uva que leva a sorrisos ternos de uma intimidade que parece existir há anos. A voz da Sia atinge-me com a força de mil crianças, atingindo contornos épicos de um amor por uma música que me deixa de rastos, gritando por ajuda do fundo da minha alegria inabalável. Sim, tens razão, que noite deliciosa esta que tivemos. Be my friend. Hold me. Wrap me up. Unfold me.



Ser um grão de areia numa pequena praia onde dão à costa diariamente novas pessoas na mesma posição em que te encontras tem coisas destas. Vais ao ginásio com a Madamme de França, onde encontras os Tios de Espanha. Suada toda a água que tinhas no corpo, tomas um banho rápido entre dois tragos de um Cuba Livre que os estranhos Alemães te oferecem. Vestes-te e vais ajudar o cozinheiro desta noite, Ozy, ou Australiano, a preparar um prato tipicamente Mexicano. Esperas pela doce Sul Coreana (neo yepa!), enfartas-te com as pequenas tortilhas recheados com muita carne, vegetais e um molho exageradamente picante. Deixas o apartamento dele e voltas ao teu, levas toda gente atrás. Trazes três copos, abres uma garrafa, chega mais um, trazes outro copo, é pá, mais dois?, vão vocês buscar os copos, sabem onde estão, podes mudar a música?, obrigado, Prost! É tarde, levantamo-nos todos cedo, estamos a adorar as aulas, sem excepção, amanhã vamos acordar ainda mais cedo, se calhar devíamos ir indo, querem ver uma coisa gira?, ele tem karaoke no computador!, olha o vinho acabou-se, toca guitarra primeiro, ó não, lá vem a Mrs. Kramer do seu terceiro andar do prédio da frente dizer que estamos a fazer muito barulho, ai sim?, pedimos desculpa, ok, karaoke, não era?, vamos cantar Aqua, Backstreet Boys, Aretha Franklin, sinto-me em casa, mas não sinto, mas sinto. É tarde, deviamos dormir, vamos dormir?, mais uma, mais uma, outra, deviamos mesmo ir dormir, mais uma e uma última, ai, esta não presta, agora sim, a última, risos, foi bom. Vamos dormir? Um sorriso ternurento responde, definitivamente, até amanhã.



Despertei às sete da manhã. Do fundo da minha sonolência ou do meu sonho – o que terá sido hoje? Todos os dias tenho um sonho melhor que o outro. Sim, extraordinário. – poderei ficar a dormir as horas que me roubei, mas o Prof. Thomson é curioso de mais para me esquivar às suas lições. Levantei-me às dez para as oito, à hora certa estava sentado, esguedelhado, sonolento, desalinhado, café numa mão e uma barra de chocolate na outra. Bom dia Admirável Vida Nova, o que tens tu hoje para me dar? I am small. And needy. Warm me up. And breath me.

1 Comments:

Blogger catarina said...

inevitável: um sorriso vai-se desenhando no meu rosto enquanto percorro, linha a linha, a tua noite. um só instante e dentro de mim surgem mais intensos tantos olhares com quem me cruzei, com quem (me) partilhei. no teu percurso, dou por mim a recordar gargalhadas, conversas até às tantas da manhã, karaokes infatigáveis que, obrigatoriamente, abriam e fechavam com abba, lutas de almofada, brindes a tentar esconder uma lágrima ao canto do olho, momentos de silêncio e ternura.
acabo de te ler e estendo a mão para o telemóvel. marco um número. "hej jonas..."

por isso, obrigada.

[na Sia tropecei por acaso, há coisa de algumas (poucas) semanas. the church of what's happening now foi a primeira coisa dela que deixei entrar em mim. depois, já com o cd completo em mãos, a breath me. o eugénio dizia, num misto de revolta e amargura: já gastámos as palavras, meu amor. às vezes, acredito nele. e às vezes, tropeço em canções simples, como a breath me, e acredito que de uma palavra vulgar se pode fazer um terrível amor. a ternura de um pedido - vem, dá-me a mão, deixa-me existir contigo. sim, eu gosto. "I believe the world it spins for you." agarra-te com força às bordinhas de cada dia novo.]

October 17, 2007 at 9:36 PM  

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