#21
Acordo bem cedo num dia sem aulas. Frio, muito frio. Hoje também não vou fazer a barba, está frio. Dou uma vista de olhos pelos jornais portugueses, tento entender os jornais alemães e perco-me pelos jornais que são vossos. Visto-me, calço as minhas luvas, enrolo-me no cachecol, enfio o enorme casaco acabado de comprar, iPod no bolso interior, câmara no esquerdo, telemóvel no direito. São dez da manhã. Hora de me fazer à estrada.
Acreditem-se, zero graus são de mais para um Português. No entanto, quatro ou cinco passos na Sophienstrasse e já não tenho frio. O casaco e os Massive Attack fazem-me sentir ainda dentro da cama, agarrado à almofada a sonhar com coisas como o Puto acabado de nascer e a falar inglês, alemão e espanhol, ou um cavalo mexicano que tem fome de pataniscas nas margens do Rio Douro. Estranho. A minha rua é deserta. Tem carros estacionados, a Mrs. Kaiser na janela em frente a berrar algo do seu terceiro andar na romântica língua alemã, por a festa no meu apartamento não a deixar dormir em condições. As outras ruas até à estação não têm muito mais.
Árvores, prédios sobriamente construídos, uma ou outra estudante Alemã que sorri para dentro das minhas vestes de português enregelado. Senhores cordiais que nos acenam com a cabeça de cada vez que passam por nós. Um outro amigo que começou o dia mais cedo e volta da Faculdade. Há comboios, túneis, mais uns prédios, a entrada para o enorme parque, corvos e ratinhos. Sim, Mickeys e Minies, grandes e pequenos, há para todos os gostos. Por dia, vejo dois ou três, sempre que passo por zonas com alguma vegetação. É formidável, e, por incrível que pareça, estou a desenvolver uma relação de amor-amor pelos ratinhos. De cada vez que um se atravessa no meio da rua e me mira, desconfiado pelo meu esgar de surpresa. «Será que me vais comer, senhor?»
Continuo o meu passeio enfiado nos lençóis do meu casaco. Dura o dia inteiro. No crepúsculo, deparo-me com o fantástico mercado de peixe. Vai estar cá até Domingo, e até Domingo não tenciono comer outra coisa a não ser Sandes de Peixe-Rosa ou filetes de Carpa. Finalmente, peixe! A acompanhar, um delicioso Gluhwein, vinho quente, como chá, com especiarias e um aroma a frutos dos bosques, que aquece o coração de todos aqueles que comigo partilham o enorme banco, em busca de convívio e algo quente nas mãos. Ao final da tarde, começo o caminho para casa, quando me deparo com a Magda, polaca. Mais uma festa, pois então.
Passei um mês a olhar esta cidade de lado, sem entender alguns dos trejeitos das pessoas, sem conseguir beber da cor tristonha dos edifícios ou a confusão que se gera à volta da Altstadt. Hoje, finalmente, fui completamente absorvido pela cidade. Percorrer os cantos de Nuremberga com a máquina fotográfica entre as minhas luvas sem dedos, tactear e tocar tudo por onde passava, sorrir às pessoas e receber repetidos sorrisos de volta, fez-me ficar apaixonado pelo sítio que escolhi. Amanhã prometo contar-vos sobre o fim-de-semana que deveria ter sido em Pilsen, na República Checa, e acabou por ser em Munique. Vemo-nos lá.
7 Comments:
zero graus são o quê?!?!?! zero graus é quentinho... com uma aragem fresca, mas quentinho;)
[pelo menos foi isso que eu pensei depois de ter experimentado os trinta e sete... negativos! zero graus é para meninas, pá;)]
[demora tempo a conhecer um sítio. muito tempo. só um bocadinho menos do que a eternidade inteira. passar pelos pontos turísticos é o mais fácil (o mais vazio). conhecer o nome das ruas, as linhas dos transportes públicos, as estradas com sentidos únicos, tudo isso vem logo a seguir. mas conhecer bem um sítio, por dentro e por fora, só depois de te perderes uma mão cheia de vezes pelas ruas. só depois de descobrires aqueles becos que cheiram muito mal. só depois de conheceres o seu povo e de adivinhares com 5 segundos de antecedência a hora a que vão acender os candeeiros da rua. boa sorte.]
O frio é bom =)
Trazes um bocadinho para mim no Natal se entretanto o bom tempo voltar a Portugal??? Sim???
Beijo*
:D:D:D:D:D:D a matricula do carro diz lau :D:D:D:D
\o/ hooray!
(pois é mocinho, se a merda dos comboios na alemanha fossem mais baratos...)
...beijinhos pa aquecer?;) toma lah :*****************
oh... tenho saudades tuas! Pronto, já disse. É isto.
Detesto gente em Erasmus (isto é para ti também, Cláudio!)
só por curiosidade, que câmara é?
:)
que câmara gira, não a conhecia. mas faz mesmo esse efeito? é que pelo aspecto parecia lomo! :p
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home