#34

Nürnberg, 15 de Dezembro de 2007

Oito da manhã. Do fundo dos meus olhos enremelados entendo que alguma coisa está mal. Está sol. Sim, está sol, afinal há duas coisas erradas. A primeira, já não é noite, os candeeiros já não me iluminam a bandeira, significa que adormeci, não acordei às quatro da manhã e ainda não é hoje que vou passear a Dresden. A sério, era mudar o nome do Garfield para Pedro e ninguém notaria a diferença, gordos e preguiçosos. A segunda, é que lá está, faz sol. E aqui não se trata do problema de fazer sol porque a noite já vai longe mas sim de fazer sol porque não há nuvens no céu. Estava com saudades do sol, e não sabia. Saio da cama e tomo um banho rápido, a água continua a escorrer pelo cano a baixo o que é sem dúvida algo que me alegra as manhãs. Confesso que é muito mais agradável tomar estes banhos sem a água pelos joelhos. Troco uma conversa curta com o Cole que lê o jornal, ainda mais ensonado que eu. Diz que este fim-de-semana não vai a casa, os amigos vêm cá para ver a feira de natal. Digo-lhe que tem sorte, solto-lhe um sorriso, dou um trago no café e ficamos calados durante o resto do tempo. A relação que se forma com as pessoas com quem partilhamos uma casa é algo de extremamente interessante. Não fazemos a mínima ideia de quem os outros são, revoltamo-nos com a maneira como nos estragam o dia quando entendemos que todos resolveram deixar a loiça por lavar, pegamos em tudo o que podemos para nos rirmos uns dos outros e das nossas diferenças mas, no fim, sentimos que tudo está perfeito assim, que somos uma pequena, insustentável e pouco convencional família de amigos. O portátil. O portátil lá seguiu ontem para uma tal cidade de Karlstein, algures aqui na Alemanha, enrolado em muito plástico com bolhinhas e com a minha morada escrita duas vezes, para que não haja confusões. Se acontecer o mesmo que à máquina fotográfica, vou ficar sem o bixo durante dois meses. Peço desculpa, mas é uma péssima altura para ficar tanto tempo sem portátil. Ao entrar na Faculdade, à pouco, vi que vão estar fechados de dia vinte e dois até dia um de janeiro. Parece que vou andar desaparecido destas lides por uns tempos. Desalentado, dou uma vista à lista de estágios que cresce a cada dia na página da minha Faculdade. Sinto-me triste por ver a hipótese de fazer o estágio fora do Portugal desaparecer à medida que as semanas passam. Ainda não liguei para Amesterdão a dizer que infelizmente não vai dar. Sabem, criar expectativas sem se saber o que o futuro nos reserva é, sem excepção, uma merda. Leio as propostas da minha faculdade e fico agradado por algumas, adiciono uma delas ao cesto de possibilidades, pondero algumas mais e deixo o resto das decisões para mais tarde. Não queria voltar. Por mim, agarrava-me a esta cidade e não saía daqui.



Ontem fiquei em cima de uma das pontes, queixo apoiado pelos cotovelos, a pensar como esta cidade por muito aborrecida que às vezes possa ser é um daqueles cantinhos que vou ter para sempre. Alem disso os patos que andam pelo rio são agora todos eles meus grandes amigos. Não sei como é que me vou despedir deles. Aos poucos, acho. Uma nota ainda para o post anterior. Foi a minha tentativa frustrada de às duas da manhã explicar no que consistem as nossas noites de quinta-feira. Na volta vou sentir mais falta delas do que dos patos, não sei. Over and out.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

tenho saudades.

e não, não vais ficar nessa cidade...vens pra esta que a gente quer-te cá!

:| humpf.
**** (=

December 18, 2007 at 3:58 PM  

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