#9

Kotor, 31 de Agosto de 2007

Entre mil quatrocentos e vinte e mil setecentos e noventa e sete, a cidade de Kotor foi um dos portos mais importantes da Serena República de Veneza. Localizada na parte mais resguardada de um enorme golfo com o mesmo nome da cidade, Kotor impressiona pela sua localização na maior fiorde do sul da Europa, pela sua gigante fortaleza que, voando pela montanha a cima, se torna numa enorme recompensa para quem, de pernas cansadas, se aventura a subir pelos mil e quinhentos degraus a cima, e pela bela cidade antiga que, mesmo contendo uma arquitectura semelhante à de Split e de Dubrovnik, oferece ao turista cansado de outros como ele um surpreendente sossego.



Tínhamos chegado ao mais novo país do mundo, a República do Montenegro. No final das duas horas da viagem de autocarro entre Dubrovnik e Kotor, o mar entra por terra dentro, as montanhas teimam em não desaparecer, e eis que se forma perante os meus olhos a mais estranha ria que alguma vez vi. Montanhas com uma altura incalculavelmente belas, terminam o seu salto das alturas num mar azul que em tudo se assemelha a um enorme lago, uma vez que não há qualquer horizonte à vista. O mar faz uma curva à direita, desliza suavemente para a esquerda, divide-se em dois e em três novos mares, a água não deixa de ser azul, as montanhas não conseguem deixar de ser altas. Ao fundo, uma pequena vila é subtilmente esmagada pela harmoniosa montanha verde que dela parece florescer. Uma grande fortaleza ergue-se para o infinito da escarpa, desde o chão de porcelana que é esta baía no mar adriático. Olá Kotor.



Para não desfazer a fama que tenho vindo a dar a esta costa Adriática e, já agora, a todos os Balcãs, uma vez mais fomos recebidos por uma multidão extravagantemente pacífica de velhinhos e velhinhas que com a mais calma das forças nos tenta alugar um apartamento. Desdentado seboso escolhido, tendo em conta o stock de Euros que tínhamos na carteira e a proximidade relativa do centro (e digo relativa, porque aqui tudo é perto do centro), fomos gentilmente recebidos pela esposa do senhor, pelos quadros de homens estranhos com turbantes e longas barbas expostos na parede, os chinelos aos pés da cama, os baldes do lixo em forma de coração e os arranjos de flores com enfeites natalícios. Uma delícia. Através de gestos multilingues, o simpático desdentado lá nos levou a comer barato, e que boa escolha se mostrou! A carta era como um enorme repasto encriptado, uma vez que o nosso Serbio se resumia aos úteis «Olá», «Adeus», «Obrigado» e «Queres ser minha amiguinha?». Depois de fazer entender ao empregado que queria algo bom e barato, esperei, esfomeado, pelo que me viria a ser servido. Um aparte então, sobre a comida do Interrailer.



A início, a minha ideia sobre comida centrava-se em comprar comida barata no super-mercado e come-la quando me desse fome. Com o – literal – andar da carruagem, veio a tornar-se impraticável resistir aos pratos típicos de cada país. Em França tivemos Crepes, em Itália pizzas e gelados sem fim, na Eslovénia o descrito veado com frutos silvestres e rolos de queijo, na Croácia os grelhados e o risoto de lulas e mais alguns viriam ainda. Em todo o lado, o hábito de nos trazerem imediatamente a bebida – vulgo, cerveja – e só passado meia-hora o prato principal, delicadamente acompanhado por pão sem manteiga, era um lugar-comum. No Montenegro, num belo restaurante enfeitado por uma Máfia Sérvia um tanto ou quanto assustadora, toalhas pouco lavadas e milhares de plantas e quadros da equipa de futebol local a enfeitar a pequena parede, o ritual repetiu-se.



Meia hora e duas cervejas depois, a comida apareceu, com o devido cesto do pão, como se do pai da noiva se tratasse, a acompanha-la lado a lado. No entanto, neste restaurante, a acompanhar os bifes recheados com queijo e bacon e umas deliciosas batatas fritas, tivemos um convidado especial. Como bom Português que sou, ao ver entrar um solitário e alto mochileiro pelo nosso inóspito restaurante dentro, dei-lhe as boas vindas com um “Hey! Interrailer!”. Ora, estava enganado, não era, mas era melhor.



Diariamente conversávamos com pessoas, mesmo neste dia já tinha vindo o caminho todo a conversar com dois polacos que estavam a aprender albanês e com uma montenegrina que julgava que eu falava polaco. E no entanto, não houve no interrail inteiro ninguém por quem tenha criado tamanha admiração, não pelas incríveis façanhas, que não são, mas por aquilo que representa para alguém que está fora de casa há duas semanas conhecer alguém como este Croata de vinte e dois anos. Há três anos atrás, e com dezanove anos, portanto, o Leo tinha-se chateado com o seu curso de Agricultura na Universidade de Zagreb. Com algum dinheiro na mão, decidiu-se a comprar um voo para Barcelona, sem saber muito bem o que lá fazer. A partir daí, fez-se Homem Estátua, percorreu Espanha, Portugal, França, Itália, Marrocos, Mauritânea e muito mais, e ganhou, pelo menos, uma tarde inteira de histórias para contar, onde se escondem vidas em Squads de cento e cinquenta pessoas em Barcelona, com creche e hospital incluídos, ou noutras mais pequenas, algures – e para gáudio da Ana – em Mem-Martins. Ganha à volta de 60 euros por dia, durante as três horas e meia que trabalha e, diz ele, não ganha mais porque não gosta de ficar em sítios com muita gente. Diz que o Jimmy, o tal guitarrista de Dubrovnik, ganhava por dia 250 euros. Agora, depois de ter vivido tudo o que nunca imaginou, decidiu-se a matricular novamente na Universidade, desta vez em Turismo. Viveu em casas abandonadas em Portugal com outros como ele, lavou pratos na Mauritânea, mas diz que está com medo daquilo que vai encontrar nas salas de aula em Zagreb. Foi uma tarde indescritível, entre cervejas e histórias do arco-da-velha.



Mas a enorme fiorde estava atrás de nós, e antes do anoitecer, munidos de uns incríveis e resistentes chinelos, fizemo-nos à montanha. Dizem que são mil e quinhentos degraus, mas mil anos de história fazem com que haja mil e quinhentos para subir e outros tantos para imaginar, enquanto tentamos subir por onde podemos e agarrar ao que não devemos. Uma boa meia-hora depois, exaustos estávamos no topo do mundo. Lá em baixo, um enorme barco cruzeiro estava atracado ao pequeno porto de Kotor. Os acanhados telhados laranja convidavam-nos a um copo na zona antiga durante a noite. A ravina era inacreditável. O mar que aparecia entre as montanhas fazia-nos lembrar que não estávamos no meio de um enorme continente, mas sim a pouco mais do que cinco quilómetros da costa. Foi revigurante, chegar ao topo da bela fortaleza, património da UNESCO.



De noite, por entre muitos apagões que assolam toda o Montenegro durante o Verão (e aqui é bom relembrar que o País é País há oito meses), deslumbramo-nos primeiro com os refinados iates que atracam naquele porto no meio de nenhures e, depois, pelas belas ruas de Kotor, sempre com a imponente fiorde – agora iluminada – a não deixar ninguém esquecer a verdadeira razão de estarmos aqui. Duas horas depois, a repousar na cama de um qualquer desdentado, um sorriso do tamanho do meu mundo teimava em não me deixar.

#8

Dubrovnik, 29 e 30 de Agosto de 2007

Estamos em Dubrovnik. Mais uma noite mágica se abre perante o olhar de cada um dos visitantes desta Pérola do Adriático. À minha frente, um Americano de bigode castiço toca de uma só vez guitarra, harmónica e bateria, ao mesmo tempo que canta e encanta um grupo de trinta pessoas que se sentaram no meio de uma enorme zona pedestre construída em mármore, o mais belo de todos os passeios, aquele que nos leva directamente à mais serena das utopias. Agarrei-me à noite de 29 de Agosto com todas as forças que pude, prendi-me com amarras de desejos a uma cidade que, certamente, foi construída com a perfeição como musa.



A viagem pela costa da Dalmácia abaixo, desde Split até Dubrovnik, é difícil de suportar. Imagina uma encosta brava com centenas de metros de altura, com o azul do céu a lutar, sem sucesso, com o azul do mar, explicado pelo solo rochoso, sem areia. Imagina uma estrada não muito larga que corta esta encosta a meio, que deambula pelas curvas da montanha sempre sem perder a apetecível costa de pinheiros mansos e – uma vez mais – água incrivelmente transparente. Imaginem ilhas do tamanho de gigantes, atravessadas por uma fina bruma. Imaginem um pequeno desvio, durante as cinco horas, para apreciar um enorme lago com uma cor que o meu português jamais conseguirá descrever, de um azul como não pode existir. Imaginem mais montanhas, mais costa, mas pessoas a tomarem banho nestas praias inacreditavelmente paradisíacas. Imaginem as praias. Imaginem a água. Mas vocês estão dentro do autocarro, não podem sair a não ser na pequena paragem em plena Bósnia (pois, por estranho que pareça, o distrito de Dubrovnik encontra-se separado do resto da Croácia, cercado pela bela sereia que é a Herzegovina e os incríveis fiordes do Montenegro). Imaginem novamente a praia.
Imaginem o interior do autocarro, repleto de almas sedentas por um mergulho naquela água de diamantes. A viagem pela costa da Dalmácia abaixo é realmente difícil de suportar.



Chegados a Dubrovnik somos abalroados uma vez mais por Croatas sedentos por nos dar um “Sobe”. Uma vez mais desamparados, sem reserva, depois de negociarmos com todas as velhinhas simpáticas e homens desdentados, optamos pelo apartamento mais central e, felizmente, um dos mais baratos. Não nos viríamos a arrepender. Depois de uma viagem de cinco minutos de autocarro, entravamos na fortaleza de Dubrovnik, coração da Dalmácia e, sem dúvida, uma Pérola que todos devem ver uma vez na vida.



No fundo de um enorme vale por onde o resto da cidade se abre nos seus palácios imperiais e jardins que em tudo fazem lembrar a cidade de Sintra, descansa uma bela fortaleza, de cor branca, com um contraste impressionante para o azul do mar que a rodeia. Depois de passar o portão principal, e as imponentes muralhas, é-nos revelado um outro mundo, com uma arquitectura nitidamente medieval e barroca, de pequenas casas de pedra branca, chão de mármore, fontes, igrejas, palácios e uma torre que muitas saudades vai deixar. Dentro das muralhas, a cidade fervilha com o turismo, mas é um turismo que não destrói, que não custa, porque, recorda-te, em Dubrovnik não estamos neste mundo.



Manhãs numa praia com milhares de seixos que o calmo Adriático não consegue tornar em areia, noites passadas com uma cerveja na mão e o fantástico Jimmy a fazer a festa para deleite de cada um de nós que assistiu, fins de tarde nas rochas, com o fantástico mar por baixo de nós e a magnifica ilha de Lokrum a completar a pintura que ostenta o céu e o abismo do oceano indigo. O brilho nos olhos dos dois miúdos com quem lutei a ver quem conseguia fazer mais barulho com o apito (?) que o Cláudio me deu. O Lindorfo refastelado na praia. O risotto de lulas. Os miúdos croatas nas rochas com a sua erva e a sua guitarra enquanto eu olho o céu estrelado, pensando na noite que não pode acabar. Estamos em Dubrovnik, o Jimmy, nos seus pequenos passos para ter o efeito perfeito na sua bateria, com um sorriso cúmplice para a plateia, pede que todos o acompanhem no refrão da Let it Be. Whisper words of wisdom, let it be.

#7

Split, 28 de Agosto de 2007

A mudança entre a paisagem Eslovena e a Croata é um tanto ao quanto brusca. De uma pintura em tons de verde, com retratos de montanhas escarpadas coloridas por pinheiros que dançam em direcção à água cristalina, passamos para uma fotografia queimada pelo sol e incrivelmente repleta por um parque automóvel inteiramente azul e vermelho, conforme as cores nacionais. De facto, ainda no comboio, o que mais me espantou na manhã do dia 28 foi a diferença da qualidade de vida de uma Eslovénia que em muito se assemelhou a ideia tida por mim de uma Austria ou Suiça e um Norte da Croácia que em tudo me fazia lembrar o cenário que o Ribatejo geralmente nos oferece.



A primeira paragem obrigatória na Croácia foi Zagreb. Estivemos pouco mais de duas horas na capital Croácia, tempo apenas para conhecer um pouco do centro da cidade, almoçar um saboroso grelhado de carnes e dar dois dedos de conversa com o extremamente simpático e cativante empregado, cujas histórias de guerra dos seus pais nos formaram um pequeno nó no estômago. Seria o primeiro de muitos, nesta forte experiência que foi a Ex-Juguslávia. É inacreditável como numa região tão pequena possa haver tantos conflitos graças, sobretudo, a questões religiosas. Mas sobre isto terei tempo para falar noutro dia.



O comboio entre Zagreb e Split, pequeno e moderno, demora cinco horas e meia a chegar ao destino final, cinco horas estas que se transformam em tempos de puro deleite. Com uma linha de carris construídos sempre na parte mais alta das montanhas por que passa, de dentro da carruagem ficamos atónitos com florestas que descansam em colinas sem fim, montanhas assustadoras como se estivéssemos a ser largados do alto dos céus, uma pequena casa no meio do nada que em tudo parece uma obra de Gaudi, um nevoeiro que me apela à imaginação. Jim Morrison acompanha-me nesta viagem, peço uma cerveja ao homem que vende bebidas pelo comboio, puxo a cavilha, refastelo-me no meu confortável lugar, pés em cima da mesa que tenho só para mim. I was the Lizzard King. Naquele momento, sinto falta de todos os que deixei para trás. Era a primeira vez em todos estes dias que realmente entendia aquilo que tinha abdicado. Falei com eles, foi bom ler as suas respostas. À chegada a Split, já de noite mas ainda nas montanhas, somos recebidos por centenas de luzes que iluminam uma baía lá em baixo na escuridão.



Durante a viagem tinha combinado com quatro ingleses ficarmos no apartamento que eles tinham reservado, já que tinham ainda duas camas livres. Isto foi mostrou-se bastante útil para evitar a quantidade irrisória de gente nova e gente velha que, aos empurrões e mordidelas, como feras em volta da comida acabada de chegar, gritavam “SOBE?”, “APARTMENT?”, “ROOM?”, para mim, a primeira pessoa a pôr os pés fora do comboio. Tenho pena de não ter fotografado o espectáculo.



Já instalados em casa de um Croata que não falava inglês mas cuja “little girl, yes, speaks, bla bla bla, me, no english”. Depois de instalados, saímos para a rua para descobrirmos que a nossa casa que deveria ficar a 5 minutos, a pé, do centro, ficava a 35 e que os croatas são completamente rebarbados no que diz respeito à condução, onde nem sequer os italianos conseguem ser piores. No entanto, o passeio até ao centro, com os ingleses, foi bastante agradável. Trinta e cinco minutos depois, estávamos num pequeno paraíso.



Apesar da confusão de turistas que vagueiam fulminados pela incrível beleza do centro romano da cidade, Split é um sonho. Uma enorme fortaleza romana erguida em mármore branco, com milhares de pequenas habitações, templos e as ruínas de um palácio formidável que se misturam com inúmeras palmeiras indicando que finalmente chegamos à Dalmácia. Percorremos as estreitas ruas, passeamos pelo porto onde dezenas de barcos e cruzeiros se encontram estacionados – afinal, Split é a mais importante das cidades da Dalmácia. Jantamos, percorremos um pouco mais da fantástica paisagem com 15 séculos de história, encontramos um enorme ouriço-cacheiro no meio da rua e descansamos. Dubrovnik esperava por nós.

#6

Ljubljana, 27 de Agosto de 2007

Uma semana já tinha decorrido de um interrail inacreditavelmente mágico. No entanto, apesar de querer absorver cada pequeno detalhe que as cidades visitadas me ofereciam minuto a minuto, era com um nervosismo miudinho que aguardava o adeus dos ares latinos. Espanha, França, Itália, nenhum destes países me ofereciam a possibilidade de sonhar como eu queria, graças às notícias, imagens e histórias que deles ouvimos diariamente. No entanto, para um Português pouco viajado, uma visita à pequena Eslovénia era motivo de festa, sinónimo de início de viagens onde tudo iria ser novo para mim. Diziam-me que Ljubljana era um encanto, e na minha cabeça formava a ideia de uma pequena vila com casas salmão, repleta de nuvens de neve e gente bonita. Na madrugada de dia 27, escrevi no meu diário que o Interrail ia começar verdadeiramente a partir daqui. Não me enganei.



O comboio que nos levou desde Veneza até Ljubljana tinha como destino final Budapeste, motivando por isso a quantidade elevada de backpackers mal-amanhados, malcheirosos e cheios de histórias para contar. Dez minutos de viagem e já a conversa com a Italiana e o Turco sentados ao nosso lado ia longa, enquanto os passageiros com destino à capital Húngara faziam questão de ressonar mais alto do que qualquer um de nós conseguia falar. O Turco, de seu nome Emre, partilhava connosco tanto o destino da viagem como a falta de sítio para onde ficar. Por isso, quando por volta das 2 da manhã caímos na gelada Ljubljana, éramos três desamparados à procura de sítio para dormir. Hostel encontrada, cama feita, sono dormido. A ternura por cada uma das distintas culturas da Ex-Jugoslávia ia começar aqui.



Depois de lavarmos alguma roupa e tomarmos um saboroso pequeno-almoço, demos um pequeno passeio pela história encantada que é Ljubljana. O centro da cidade é o mais acolhedor que alguma vez vi. Pequenas casas da época em que Napoleão decidiu fazer de Ljibljana uma das suas capitais, verde em todo o lado, um pequeno rio rodeado por muros brancos e passeios largos, vendedores, cafés, bares e restaurantes modernos e incrivelmente bonitos. Pessoas bonitas. Pessoas simpáticas. Pessoas que ficam ofendidas por lhes perguntarmos se falam inglês, uma vez que é coisa comum por aqueles lados. Comida estranha mas muito saborosa, feita à base de caça, frutos dos bosques e rolos de queijo. Cerveja barata, tudo barato. Não queríamos sair dali e porém, apreensivos, decidimos ir ver o que era esse tal Lago Bled, a 50minutos de comboio da capital.



Bled é uma pequena vila situada no início dos Alpes Julianos. Seria igual a tantas outras vilas que existem nos Alpes ou nos Pirenéus, com as suas casas brancas de telhados íngremes e janelas de madeira, não fosse o enorme Lago de água cristalina que, com o mesmo nome da vila, vê em si recaírem todas as atenções das gigantes montanhas, do castelo do cimo do abrupto penhasco, da pequena ilha com uma elegante igreja ao centro, das aves de rapina que por lá cirandam e de todos os alemães, austríacos e eslovenos que por lá passeiam. Mas mesmo sendo uma das atracções principais da Eslovénia, Bled é pacata, com um ambiente extremamente relaxante e pelo qual é difícil ficar indiferente. Remei. Remei, remei, remei, remei, toquei na água azul celeste, sorri e desejei que a vida de um mundo inteiro fosse como aquela hora que passei numa paisagem desconcertante. Apaixonei-me pelas montanhas. Voltamos a Ljubljana. Apaixonei-me pelas montanhas e por Ljubljana. O prazer que me deu o passeio pela cidade durante a noite, com os bares apinhados, com os portugueses de bigode vindos da Croácia e os portugueses de sotaque Lisboeta que escolheram esta cidade como destino ERASMUS. Sonhei no meu ERASMUS. Parei de sonhar e foquei-me naquilo que estava a viver naquele momento, no rio que calmamente banhava a vida de toda aquela pacata mas energética e excitante cidade.



Na manhã seguinte, rumamos para Zagreb por entre paisagens hipnotizantes de escarpas e rios azuis. Um ciclista na estrada vazia pára absorto, observando todo o verde impossível de descrever que o rodeia. Dois trabalhadores numa pedreira, de dentro do seu fato-macaco vivem o seu dia-a-dia sem reparar na deslumbrante paisagem montanhosa que têm atrás de si. A minha má caligrafia descreve a viagem, embalado pelo cantar de um comboio que me leva de paraíso em paraíso. Que não acabe nunca. Ali smo lahko prijately.

#5

Veneza, 26 de Agosto de 2007

Encontramos os primeiros Portugueses no comboio de Florença para Veneza. Hora de almoço, inter-cidades cheio, e eis que surgem o Bruno e a namorada a rir de uma rapariga loira que, aparentemente, os seguia desde Budapeste. Os dois estavam quase no fim do seu interrail e, vindos de Ljubljana, preparavam-se para ficar quatro dias nos Alpes Austríacos a, diziam eles, relaxar. Espertos, que eles são.



Mas enquanto uns Tugas se preparavam para umas noites em busca de calor humano graças aos glaciares alpinos, outros chegavam a uma Veneza repleta de sol, folia e muita, muita, muita gente. É inacreditável a quantidade de turistas que, como nós, inclui Roma e Veneza no seu itinerário, fazendo assim com que a magia das cidades se perca um bocado. Por isso me flagelo, por contribuir para que as cidades belas sejam destruídas por milhões de turistas sedentos de viver um pouco do que as mais conhecidas cidades italianas foram em tempos.



Comentários desnecessários à parte, Veneza é surreal. Sustentada por centenas de ilhas, ainda que protegidas pela gigante barreira de areia que é o Lido e as suas praias, a Rainha do Adriático não tem certamente a vida e o poder que possuía quando, no século XII, era centro de trocas comerciais entre a Europa e o Império Bizantino. Ainda assim, ninguém consegue ficar indiferente às incontáveis pequenas casas construídas nos estreitos canais, às prodigiosas pontes e a toda uma atmosfera que nos deixou enternecidos por uma tarde inteira, tempo mais que suficiente para absorver Veneza e desejar ser um Veneziano numa vida passada.



O truque em Veneza é ignorar as ruas mais importantes, por onde se deslocam infinitos turistas durante todo o dia e partir à descoberta do labirinto que é a cidade da água, das pontes e da luz. Uma monumental igreja perdida num lugar de ninguém, uma janela adornada com motivos impossíveis, um portal de ferro enorme com saída para um canal, escadas em caracol, varandas e varandins deliciosos, heras, flores e mais flores, poços inactivos mas que cativam o olhar, uma velha estende a roupa à janela, esta rua não tem saída, repara bem nas máscaras douradas que este homem faz para o carnaval de Veneza, e este pequeno café plantado na margem do canal, ó não, a Piazza di San Marco está atulhada de gente, mas vê bem como as pombas voam para os nossos braços em busca de milho, e aquilo não é a Ponte dos Suspiros? Ai.



Por vezes falam comigo dizendo isto e aquilo sobre o que escrevo. Nada é verdade. Porque me é impossível descrever o fascínio, detalhe a detalhe, da cor das flores de todas as janelas da cidade, da cascata de telhados barrentos, do creme e laranja das casas que há séculos assim se mantêm, dispostas uma por cima das outras como que partilhando o mesmo sonho, o de viver por entre gôndolas e canais, mármore e granito, histórias que certamente não têm fim.



À noite, exaustos mas completamente derretidos por uma cidade à qual é impossível ficar indiferente, com cento e cinquenta fotografias do possível e impossível de fotografar, deitamo-nos junto ao Canal Grande, com a estação atrás de nós e uma paisagem inesquecível pela frente, em busca das estrelas cadentes que iluminavam o céu incrivelmente brilhante, enquanto cá em baixo o azul dos bares se misturava com o roxo das pontes e com todas as demais cores que cada uma daquelas pessoas, que connosco partilhava o momento de magia, imaginava inocentemente dentro da sua cabeça.

#4

Florença, 25 de Agosto de 2007

Chegamos exaustos a Florença, depois do turbilhão de emoções causados pela estadia em Roma ter culminado em duas horas de viagem numa carruagem com o ar condicionado avariado e muitas senhoras italianas aos berros com o revisor, como se ele fosse resolver o problema do inter-cidades não estar a arrefecer os seus corações como seria suposto arrefecer. Talvez então por a viagem não ter sido das melhores, ou por a atmosfera de Roma ser tão pesada, ou talvez até porque Florença é realmente mística, a chegada à capital da Tuscania foi, sem dúvida, uma das melhores sensações que tive neste interrail.



A cidade é incrivelmente bela, recheada de estreitas ruas com prédios elegantemente arquitectados, de não mais que três andares, enfeitadas por geladarias, restaurantes e muitas, muitas lojas de moda com preços incompreensíveis para a minha mentalidade tacanha. E depois, a cidade de Dante, Raffaello, da Vinci, Machiavelli e Galileo tem uma aura mágica, que vive à volta do rio Arno, e se desenvolve a partir da Ponte Vecchio, a única que resistiu à fúria da II Guerra Mundial, uma ponte medieval recheada de casas com pequeno comércio mas com uma atmosfera tão pitoresca que por mim, ainda hoje lá estava, observando cada detalhe das pequenas casinhas que constituem uma imensa obra de arte e um património histórico como, até hoje, vi poucos.



Apesar de ser conhecida pela Duomo, a gigante catedral de listras brancas e verdes que enfeita o centro da cidade, Florença oferece-nos ainda a fantástica Piazza della Signoria com a gigantesca e impressionante estátua de David (réplica, uma vez que a original foi transferida na Academia de Belas Artes) ou a fantástica Fonte de Neptuno a embelezar o monumental espaço. E para os apreciadores de arte, uma visita à galeria Uffizi, uma das mais conhecidas e antigas galerias de arte do mundo, criada pela família Medici, é mais que obrigatória. Não sou grande apreciador de pintura, talvez por não a entender ou porque, simplesmente, por ora, é raro o quadro que me diz algo de extraordinário, mas impossível ficar indiferente ao vermos uma colecção tão grandes de mestres como Verrochio, Botticelli, da Vinci, Michelangelo, Raffaello ou o exuberante Caravaggio.



De Florença fica então o sabor a pistáchio e chocolate com laranja dos imensos gelados que comemos, fica a memória de uma boa conversa com a simpática brasileira do restaurante onde comemos uma perfumada Bruschetta, fica o som do casal que tocava à noite na Piazza della Signoria, fica a imagem da minha roupa espalhada pelo quarto a apanhar ar e da bela italiana que escrevia ao seu amigo a partir do seu portátil docemente instalado por cima de um na janela da sua casa com a piazza cheia de pequenas pizzarias e videiras. De Florença fica a atmosfera romântica e extremamente cativante, a paz de espírito que senti ao ver o Arno a correr pela primeira vez, o encanto que sinto quando a recordo, fica a vontade que tenho de percorrer aquele chão para o resto da minha vida.

#3

Roma, 24 de Agosto de 2007

O comboio nocturno de Paris para Roma foi a nossa introdução a compartimentos que, durante vinte e dois dias, quase se tornaram família. Com seis lugares, uma janela e uma porta de vidro com cortinados escuros para proporcionar uma boa noite descanso, cada compartimento destes comboios pode ser transformado num quarto com seis camas através da engenhosa arte de alavancas e força bruta. Partilhamos os lugares com uma francesa pouco faladora e um casal de sul-coreanos que amavam o Cristiano Ronaldo e tinham uma aversão especial pelo Humberto Coelho. Convém dizer que, na sua maioria, sempre que dizemos que somos de Portugal a conversa recai inevitavelmente sobre futebol. Não é mau, porque é sempre um bom início de conversa, mas podíamos ter arranjado algo melhor como estandarte do nosso país.



Em contraste com a chuva torrencial de Paris, Roma apresentou-nos um calor abrasador, por vezes insuportável, que com a ajuda da zona não muito agradável do nosso quarto, cheia de chineses e prédios degradados, me provocou uma cara desgostosa durante a primeira hora na cidade. No entanto, a mente do Turista Parvo rapidamente se habitua aos loucos condutores romanos (sim, não é mito, eles não usam semáforos, eles não param na passadeira, mesmo que vocês já estejam no meio da estrada, a lamber docemente um super mega ri-fixe gelado romano), às enormes ruas, aos belos prédios creme, às bonitas romanas, às piaggio do povo e aos alfa-romeu dos carabineri, aos fiat 500 e a todos os monumentos absurdamente arrasadores que se podem ver.



Vi o Coliseu. Toquei nas paredes do Coliseu, onde homens lutavam com homens, animais com animais, homens com animais, onde o César decidia, onde os Romanos vibravam. Todo o anfiteatro está em ruínas, mas é inacreditável como há dois mil anos alguém construiu aquilo, e como vinte séculos depois a estrutura, as bancadas, as galerias, os subterrâneos, os arcos, as inscrições e toda uma energia contagiante continuam de pé. Mas Roma não é só o Coliseu, porque basta voltarmos costas para o grande símbolo da antiguidade para nos depararmos com algo que eu não sonhava existir. A Roma antiga existiu mesmo, e é essa Roma antiga que podemos ver espalhada por todo o Fórum Romano, com os imensos templos, arcos, basílicas e toda uma infinidade de locais de comércio que nos deixam desesperados por não termos vivido naquela altura. Por causa dos incêndios, das cheias, das pilhagens, e de dois mil anos de chuva, vento e seres humanos, todos os monumentos estão em ruínas, mas acreditem quando digo, é avassalador.



E há mais, cada sítio com pano para mangas para eu me derreter perante quem me lê, passando pelo desmedido palácio do César, as inúmeras de fontes de mármore branco, com água mineral límpida que nos chamam para beber a cada virar de esquina, ou o panteão com uma enorme cúpula aberta que deixa entrar a chuva se é que esta alguma vez cai em Roma.



Tivemos um jantar iluminado pelo Tibre, imensos e deliciosos gelados, uma noite de calor insuportável que me deixou a dormir dentro do frigo-bar e, antes da partida para Florença, uma visita por todo o Vaticano que, apesar de agnóstico, me deixou totalmente surpreso pela sua beleza. Dá também que pensar sobre a quantidade astronómica de dinheiro que a igreja tem e o que faz com ela, mas isto já são histórias para outro sítio.



Dois mil e quinhentos anos de história são-nos apresentados através de impérios, vitórias, devastações, incêndios, saques, contos bíblicos, renascença, neoclassicismo, loucura e invasões de turistas desesperados por absorver num curto espaço de tempo toda a história monumental da Cidade Eterna. Este é um destino a ver de mente relaxado, sob pena de não se aproveitar devidamente tudo o que Roma nos tem para dar. Apesar de ter ficado aterrado com a impressão inicial da cidade, em muito semelhante a uma Lisboa mais decadente, Roma entrou em mim para daqui nunca mais sair.

#2

Paris, 21 22 e 23 de Agosto de 2007

Paris. Basta-me escrever o seu nome para sentir o cheiro dos crepes a pairar no ar, as valsas e boleros dos músicos pelas ruas, as mulheres nos seus elegantes vestidos e os homens com a sua postura distinta, as dezenas de centenas de milhares de avenidas, ruas e quelhos repletos de história embebida em Patisseries, museus, teatros, vida. O Sena como um pulmão, a Torre Eiffel como o bordão onde toda uma cultura de encantos e romances se mistura com as mais diversas formas de vida. Sim, Paris.



Durante os três dias em que permanecemos em Paris fomos abençoados por um dilúvio. Apesar disso, o encanto não esmoreceu nem um pouco. Foi a minha primeira verdadeira paixão, neste interrail.



A estação de Montparnasse não é a estação mais bela do mundo, com a quantidade enorme de pessoas que atravessam os seus muros de betão e as suas inúmeras lojas comerciais mas é fora da estação que o encanto começa. Magnífico. Hospedados na Woodstock Hostel, recebidos pela simpática Nina, o endoidecido Gino, a extremamente atraente Claire e o gato chamado Jesus, partimos para uma cidade iluminada. Viajamos pelas quengas de Pigalle, pelo Les Deux Moulin e a nostalgia de estar no café da Amelie, pelo Moulin Rouge e os seus preços exorbitantes, pelo Sacré Cour e pelos Crepes com Nutella. Tudo estava iluminado.



Com os anos da Ana e do Gero em vista, rumamos à Torre Eiffel pelo meio de centenas de prédios e praças imperiais, arranjamos alguma comida e bebida e refastelamo-nos no grande parque por baixo da torre enquanto admirávamos a bela gigante. Não nos sentimos vivos até vermos a Torre Eiffel por cima de nós, com toneladas inomináveis de ferro e seres humanos por cima de nós, numa aspiração aos céus que nenhuma forma de arte poderá ter. Não nos sentimos vivos até vermos a Torre Eiffel transformar-se, às dez da noite, na Blinking Tower, na Highffel Tower, na nossa única e real paixão de verão. A festa com bela Maria Paradise de Jersey, com as suas dementes amigas, com o puto americano que falava melhor inglês do que eu, com as dezenas de pessoas que nos aturaram na fila antes da subida. O cantar de parabéns em 5 línguas diferentes, o termos a Torre Eiffel para 8 marmanjos e marmanjas que festejam duas festas de anos num só dia. Foi encantador.



No dia seguinte pela manhã, fui visitar Jim Morrison, deixando-me comover por um homem que encantou uma geração. Ali, no cemitério de Pére Le Chaise, pensei como seria bom conhecer aquele ser humano que agora morto, jaz protegido por grades e polícias, evitando que os apaixonados provem a sua devoção a um qualquer Deus. Ali, fulminado, quis ser Jim Morrison.



Percorremos Paris de lés a lés, a imponente Bastilha, os empresários de fato e gravata a correrem para o seu emprego, o esplêndido Panteão e o pêndulo de Foucault, as meninas parisienses com as suas botas, chapeu e elegante perfil, o coração palpitante que é o Louvre com os fantásticos sarcófagos e a pequena Mona Lisa, os cheiros a cozinha turca e a pão fresco, a magnificência de O’rsay, as avenidas que mesmo sendo cinzentas se recheiam de árvores, relva e arquitecturas de brandar aos céus, a moderna La Défense, a quantidade exageradamente rica de scooters, os encantadores Champs Élysées, as lojas megalómanas da Cartier, Louis Vuitton, Hugo Boss, o soberano Arco do Triunfo. Exausto, deixei Paris tendo-a como minha eterna companhia, amante, mulher, vida, tendo Paris como minha.

#1

Madrid, 20 de Agosto de 2007

Começar um interrail não é difícil. É fundamental ter uma ideia daquilo que se quer ver, encher uma mochila com o extremamente essencial, tendo em mente que vamos passar vinte e dois dias com ela às costas, trazer à tona o aventureiro mais ou menos parvo que temos dentro de nós e partir em direcção ao desconhecido. Comecei o meu na manhã do dia vinte de Agosto, levando na bagagem memórias de um verão inesquecível, deixadas por pessoas que, quando querem - e quando eu deixo - sabem como me deixar com o coração derretido nas mãos.



Cheguei com a Ana a Madrid por volta das 13h, depois de um voo com um piloto que parecia estar com medo de aterrar o avião. O aeroporto de Las Barajas é enorme e com um ar de velho, mas as Espanholas são um óptimo motivo para se estar lá. Apanhamos o metro para a estação de comboios de Chamartin, reservamos o nosso bilhete para Paris que partia às 19h e partimos para desbravar o centro da capital espanhola.



Madrid pareceu-se muito com Lisboa, com a esmagadora diferença de estar no meio do Deserto, sem rio e mar que desfaça a minha claustrofobia de cada vez que estou numa cidade assim, fruto de morar numa cidade que me deixa ver água sem fim a cada dia que passa. Contudo, gostei do passeio que demos por uma Madrid escaldante. Prédios imponentes, misturados com ruelas acolhedoras, praças recheadas de turistas e parques onde os joggers fazem o gosto às pernas. Encontrei dois sem-abrigo que tocavam harmónica, um deles já tinha estado em Portugal, numa história mirabolante que no seu espanhol madrileno misturava alto mar, saltos de um barco e vidas felizes para os lados de Lisboa. Quando nos demos por satisfeitos, e depois de ter bebido a primeira das incontáveis cervejas que tenho experimentado no último mês, rumamos novamente à estação, onde meti conversa com um alemão chamado Gero que, como nós, ia para Paris e que, coincidência das coincidências, ia lá passar o seu dia de anos, tal como a Ana, no dia 22. Números de telefone trocados, fomos ver o que nos esperava dentro do comboio.



Às sete da tarde, numa “leiteira” (nome carinhoso com que apelidamos o compartimento de seis camas que partilhamos com duas simpáticas senhoras de idade francesas e um casal de namorados espanhóis que vinham das Caraíbas), adormeci sem antever o que me esperava nos dias seguintes. Depois do comboio terminar pela manhã a sua marcha numa Handaye com muita chuva, de tomarmos um simpático pequeno-almoço francês e de fazermos o transbordo para um espantoso (só visto) TGV, rumamos a Paris.
Tinha começado a maior viagem da minha vida.

#0

Nuremberga, 20 de Setembro de 2007

No final deste texto aparece a data de 19 de Agosto de 2007. É mentira. Faz hoje exactamente um mês que comecei o meu interrail. À medida que o tempo passa, cada vez mais me apercebo da enorme quantidade de histórias que dele me ficaram. Faz também hoje dez dias que acabei o interrail. A quantidade de histórias destes dez dias na Alemanha é provavelmente tão grande como as dos vinte e dois dias anteriores. Como a internet tardou a aparecer aqui no meu apartamento de Nuremberga, vou tentar actualizar-vos de tudo, escrevendo um ou dois textos diariamente daquilo que já passou. Para além deste blog, conto continuar a escrever no Hábitos Breves e actualizar a conta do Flickr. Ainda não tenho a minha máquina fotográfica comigo, por isso ainda não tenho nenhumas fotografias da Alemanha, para além daquelas que o resto do pessoal vai tirando. Vivi tanto neste último mês que é difícil contar tudo. Cada minuto é um mundo, cada olhar para algo de novo é uma confusa surpresa, todas as palavras de alguém diferente entram em mim como setas envenenadas de alegria de viver.



Sinto-me bem, finalmente. De vocês, tenho saudades, mais do que possam pensar. Custa um bocado estar longe de quem gostamos, mesmo que não lhes demos o devido valor quando os podemos ter todos os dias. No entanto não estou triste. Acho que vão entender porquê. Vemo-nos por aqui.

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