#36

Nürnberg, 20 de Dezembro de 2007

Muito bem, vamos por partes. Há coisa de um mês comprei um disco externo para ter sítio onde guardar as quantidades pornográficas de música e fotografias que diariamente me faziam receber avisos de limite de espaço em disco. Um problema resolvido, portanto. Uns meses antes, a minha mochila cinzenta, bonita, prática e confortável sofreu um inexplicável revés na amigável companhia que me fazia às omoplatas, quando o seu fecho decidiu começar a abrir sem anuncio prévio e mão competente que o quisesse abrir. No entanto, graças ao milagre da existência que são as avós, um alfinete no sítio certo e o fecho parou de abrir sem que eu lhe pedisse. Outro problema resolvido, lá está. Com outro salto no tempo, chegamos à manhã de ontem, onde depois da aborrecida apresentação acerca dos recursos humanos da disney europa Professor e alunos começaram a beber Sekt (que é como quem diz Espumante nesta complicada língua) e Vinho Quente a acompanhar uns deliciosos Lebkuchen de chocolate. Ora, chamem-nos parvos, mas como bons ERASMUS que somos, sem aulas para aborrecer o resto do dia, agarramos em quatro garrafas à toa e fomos para um canto bebê-las descontraidamente. Eram onze da manhã e já estávamos todos Germanicamente entusiasmados. E vocês já sabem que, regra geral, quando eu estou entusiasmado salto mais do que o que é normal.



Bom, certo é que a caminho da casa de um dos Alemães, dei por mim com a mochila aberta. O meu estado de espírito foi completamente abalado quando dei pela falta da merda do disco. Meninos, façam backups. A sério. Eu não vou fazer porque comprar para comprar outro disco de 230GB prefiro pôr-me ali à frente de um ICE e esperar que o céu seja um lugar perfeito, mas olhem, se poderem vá, façam cópias daquilo que prezam, digitalmente falado. Mas a parte boa, quando à pouco fui tentar a minha última solução, que era o simpático porteiro da faculdade, o senhor ouviu a minha descrição do bicho e com um sorriso na cara, entregou-mo em mãos. Sabem, acho que ele nunca se vai esquecer do beijo saltimbanco que a bochecha dele recebeu. Já ganhei o dia. Bom, já tinha ganho com uns votos de feliz natal adiantados dados pela minha mãe e pela martinha, mas o que é certo é que agora já não me sodomizo mais por ter perdido coisas que, talvez de um modo bastante infantil, tanto valor dou. (:

#35

Nürnberg, 17 de Dezembro de 2007

Sabem, adoro esta coisa de ser uma pessoa completamente fútil. Tenho vinte e dois anos e nunca fiz nada de jeito com a minha vida, queixo-me quando tenho trabalhos longos e entediante pela frente, registo diariamente como estou no curso errado e como devia ter nascido num sítio onde a minha arte de dormir de papo para o ar fosse bem compreendida. Mas há uma coisa que eu sei fazer muito bem: ler. Ontem acabei o "To Kill a Mockingbird" e hoje já comecei às gargalhadas a tentar entender o inglês cómico do David Sedaris. Até agora valeu-me pelo menos uma dúzia de gargalhadas num Starbucks cheio de gente a comer bolos tamanho calórico industrial em plena hora de almoço. Um pouco antes, enquanto perdia hora e meia da minha vida a escolher onde gastar melhor uns quantos euros em livros, uma senhora muito pouco alemã, com os seus quarenta ou cinquenta anos, daquelas negras bonitas e sorridentes, vestes largas e coloridas, lenço com motivos botânicos a cobrir a carapinha, veio ter comigo e num inglês algo arranhado mas completamente compreensível pediu-me carinhosamente que lhe apontasse um livro para ela oferecer ao filho no Natal, "porque gostava que ele começasse a ler coisas boas". Ó pobre diabo. É que eu gosto muito de ler, porque aprendo coisas novas que geralmente rapidamente esqueço, e muito certamente porque ler faz com que o tempo não doa, mas saber que livro dar a um miúdo de dezasseis anos para que ele ganhe o bichinho da leitura? Isso já é complicado para mim.



Não gosto de catalogar, não o sei fazer. Não faço ideia do que é bom para ou mau para. O primeiro livro que me saltou à vista foi o On The Road, do Kerouac, mas era uma chatice se a mãe dele vinha das Áfricas até ao meu poiso só para me dar uma tareia por eu fazer o seu filho sonhar em ser um tresloucado Dean Moriarty. Desviei por isso rapidamente os olhos da letra D e fui saltar no C de Chabon. Peguei com confiança e sem segundas leituras no The Amazing Adventures of Kavalier & Clay e depois desci até ao Cormac McCarthy para pegar no pequenino The Road. Assim a minha mente relaxava daquele nervoso desesperante de lhe querer dar o On The Road. Apenas caía um pequeno pedaço do nome, certo? Além disso o livro do McCarthy enternece qualquer coração meloso com aquela história de pai e filho e, quem sabe, o miúdo até lhe dava algum valor. E não quero saber que tenha sido a Operah a indicar-me o livro, até podia ter sido a Carolina Salgado - ou uma outra qualquer personagem mais actual do panorama azeiteiro-deprimente do nosso país. Então voltei-me para a senhora - e raios se não devia ter-lhe pedido o nome de tão simples e carinhosa que ela era! - e pedi-lhe que escolhesse entre as seiscentas e quarenta e seis páginas de letra miudinha ou as duzentas com espaçamento generoso. Ela ofereceu-me um sorriso e disse que levava os dois, desejando-me um bom natal. Meia hora depois, comigo ainda à volta do que escolher, voltou e perguntou-me timidamente se tinha encontrado mais algum. Eu, que tinha finalmente há coisa de minutos passado os olhos pelo The Life of Pi, que não tinha encontrado por não saber o nome do autor - Yann Martel, Yann Martel, Yann Martel! - num gesto rápido e eficaz colhi o livro da prateleira e disse que daquele eu tinha a certeza que o miúdo, fosse lá ele de que género fosse, ia de facto adorar. Espero que não me engane. Para mim, acabei por pegar em quatro e rezar para que a conta alemã ainda tivesse dinheiro lá dentro. Diz-me o saco de plástico esbranquiçado que comprei John Banville, «The Sea» e, noutro registo, Nick Horby «A Long Way Down», Dave Eggers, «How We Are Hungry» e finalmente aquele que comecei a ler, "Me Talk Pretty One Day" do David Sedaris. Sim, adoro esta coisa de ser uma pessoa completamente fútil. É que posso muito bem vir a ser uma nulidade para o evoluir da sociedade, uma vergonha para o papai e para a mamãe, uma frágil memória na cabeça de cada uma das pessoas que tenho espalhada pelas paredes no quarto, mas o que é certo é que gosto desta coisa de sorrir às pessoas que me miram embrulhadas em pensamentos confusos quando me deixo afundar nos sofás dos cafés, gosto de sair para os zero às vezes enervantes graus desta terra e largar cachecol, luvas e gorro só para sentir o frio a estalar com os meus inatos tremores, sinto-me bem quando respiro fundo e com alguém a cantar-me ao ouvido ou a sussurrar-me a meio dos pensamentos, olho para este céu que decidiu ficar azul por uns dias e sentir-me vivo. Porque estas ocasiões são raras, porque já ninguém se sente vivo e disso sim, deviam ter todos vergonha. É fútil, é uma pena, mas é bom. E como eu infelizmente não consigo balançar as coisas, não consigo ter estes momentos e ao mesmo tempo entender os modelos e integrações empresariais, os sistemas distribuídos e tudo mais, então tenho é de passar por estes momentos e agarrar-me a eles de uma maneira muito mais forte do que qualquer sabedoria me pode dar. Pode ser que um dia ser assim me traga algum proveito. Uma futilidade proveitosa, quem sabe?

#34

Nürnberg, 15 de Dezembro de 2007

Oito da manhã. Do fundo dos meus olhos enremelados entendo que alguma coisa está mal. Está sol. Sim, está sol, afinal há duas coisas erradas. A primeira, já não é noite, os candeeiros já não me iluminam a bandeira, significa que adormeci, não acordei às quatro da manhã e ainda não é hoje que vou passear a Dresden. A sério, era mudar o nome do Garfield para Pedro e ninguém notaria a diferença, gordos e preguiçosos. A segunda, é que lá está, faz sol. E aqui não se trata do problema de fazer sol porque a noite já vai longe mas sim de fazer sol porque não há nuvens no céu. Estava com saudades do sol, e não sabia. Saio da cama e tomo um banho rápido, a água continua a escorrer pelo cano a baixo o que é sem dúvida algo que me alegra as manhãs. Confesso que é muito mais agradável tomar estes banhos sem a água pelos joelhos. Troco uma conversa curta com o Cole que lê o jornal, ainda mais ensonado que eu. Diz que este fim-de-semana não vai a casa, os amigos vêm cá para ver a feira de natal. Digo-lhe que tem sorte, solto-lhe um sorriso, dou um trago no café e ficamos calados durante o resto do tempo. A relação que se forma com as pessoas com quem partilhamos uma casa é algo de extremamente interessante. Não fazemos a mínima ideia de quem os outros são, revoltamo-nos com a maneira como nos estragam o dia quando entendemos que todos resolveram deixar a loiça por lavar, pegamos em tudo o que podemos para nos rirmos uns dos outros e das nossas diferenças mas, no fim, sentimos que tudo está perfeito assim, que somos uma pequena, insustentável e pouco convencional família de amigos. O portátil. O portátil lá seguiu ontem para uma tal cidade de Karlstein, algures aqui na Alemanha, enrolado em muito plástico com bolhinhas e com a minha morada escrita duas vezes, para que não haja confusões. Se acontecer o mesmo que à máquina fotográfica, vou ficar sem o bixo durante dois meses. Peço desculpa, mas é uma péssima altura para ficar tanto tempo sem portátil. Ao entrar na Faculdade, à pouco, vi que vão estar fechados de dia vinte e dois até dia um de janeiro. Parece que vou andar desaparecido destas lides por uns tempos. Desalentado, dou uma vista à lista de estágios que cresce a cada dia na página da minha Faculdade. Sinto-me triste por ver a hipótese de fazer o estágio fora do Portugal desaparecer à medida que as semanas passam. Ainda não liguei para Amesterdão a dizer que infelizmente não vai dar. Sabem, criar expectativas sem se saber o que o futuro nos reserva é, sem excepção, uma merda. Leio as propostas da minha faculdade e fico agradado por algumas, adiciono uma delas ao cesto de possibilidades, pondero algumas mais e deixo o resto das decisões para mais tarde. Não queria voltar. Por mim, agarrava-me a esta cidade e não saía daqui.



Ontem fiquei em cima de uma das pontes, queixo apoiado pelos cotovelos, a pensar como esta cidade por muito aborrecida que às vezes possa ser é um daqueles cantinhos que vou ter para sempre. Alem disso os patos que andam pelo rio são agora todos eles meus grandes amigos. Não sei como é que me vou despedir deles. Aos poucos, acho. Uma nota ainda para o post anterior. Foi a minha tentativa frustrada de às duas da manhã explicar no que consistem as nossas noites de quinta-feira. Na volta vou sentir mais falta delas do que dos patos, não sei. Over and out.

#33

Nürnberg, 12 de Dezembro de 2007

Faz-se tarde, penso para os meus botões. Despeço-me do fumo e confusão do bar para abraçar a chuva, inspiro fundo a noite e dirijo-me para a primeira rua escura que julgo não reconhecer. Perco-me no labirinto de paralelos mal recortados e casas medievais barrigudas, subo os ombros na procura por um pouco mais de calor, atravesso em passos atrapalhados as poças que sorrateiramente vão aparecendo aqui e ali, encanto-me pela luz trémula que a estrada reflecte dos faróis dos carros que vão passando pela estreita ruela que a muralha milenar abraça. Rapidamente entendo que não faço ideia onde possa estar e sorrio aos parapeitos vermelhos de madeira que vou descobrindo. Uns passos mais e de uma das janelas vejo uma mulher que mira o vazio, os enormes peitos descaídos num sinal que o negócio podia ir melhor. A visão repete-se durante mais meia dúzia de janelas, até que os néones vermelhos desaparecem e a pacatez católica volta ao lugar. Depois vem um pequeno cedro, dois castanheiros, a imponente ponte de madeira de onde setas voavam em direcção aos que se queriam longe, é agora a vez do túnel escavado na pedra e finalmente o reconhecível barulho dos carros a deslizarem pela estrada encharcada. Estranhamente, aqui não chove torrencialmente. Estranhamente, aqui a chuva é amiga, faz-me cócegas na cara e diz-me que não me vai deixar sentir desconfortável. Com o frio é a mesma coisa. É tão tarde. Sim, deve ser mesmo tarde. Evito olhar para o relógio e sigo em frente. A esta hora devem continuar todos no bar, a beber e a tentar levar alguém para a cama o mais depressa possível para que a noite acabe com uma boa história para contar. Uns vão se lembrar de tudo no dia seguinte, outros vão fazer de conta que nada se passou e uns poucos vão realmente passar ao lado da noite, do dia e, muito provavelmente, de tudo o resto. Perguntaram-me porque me vim embora e eu respondi que se fazia tarde, que era mesmo isso que pensava para com os meus botões.



Na verdade não foi nada disso. Já tinha conversado com todos, rido e abraçado cada um deles e agora era tempo para fazer o que mais gosto, esta coisa de estar sozinho, de não ter nada que me amarre a lado nenhum e de não ter de passar o resto da noite no bar para saber se o desfeche com aquela empregada de olhos azuis podia ser outro ou não. Será que precisamos mesmo disso? Uma e outra vez? Só para provarmos que estamos mais vivos do que aquele pobre coitado que está enterrado em bebida e erva mesmo ao nosso lado? Faz-se tarde. Sim, faz-se tarde. E a cerveja pode ser muita e dar larga aos sorrisos dos outros, mas o meu está sempre aqui e só não o puxa quem não quer. Ouviste? Só não o puxas se não o queres. Por isso puxa. E então largo-o a ele e largo-a a ela, dou dois beijos desengonçados como os são na maioria aqueles que damos em regime de emigrante, digo até amanhã e salto para o frio e para a chuva. Eles gostam desta minha coisa de andar pelas ruas escuras e desertas só para ver o que nunca antes tinha visto. Aparece outra mulher, de copa mais pequena mas mesmo assim trazidos à terra pela força mãe da gravidade. Enfrento-a nos olhos e pergunto-me o que a terá conduzido até a uma janela ofuscante e um pouco de cetim. Mantenho o passo certeiro e relaxado que me leva uma hora a chegar até casa, cruzo as praças e ruas que de dia se enchem de gente, aceno ao homem que varre o passeio, continuo em direcção ao nada.



Faltam dois meses para deixar todos estes segredos que me agarraram, a padaria do pão que sabe a mel, a faculdade dos vidros encantados, o parque das árvores nuas e dos corajosos barrigudos que como eu por lá ainda correm, os incansáveis manifestantes em frente à Lorenzkirsche, os sofás violeta das minhas leituras, os semáforos que me fazem desesperar, os meus vizinhos e o abastecimento de festas na cozinha que me vai chegar para uma vida. Têm sido meses calmos, extremamente calmos em comparação com vidas lá para os lados do Alentejo ou do Minho, mas têm sido meses extraordinários dos quais já sinto a falta. Não quero sair daqui, não quero. E o saber que daqui a pouco já tenho de me ir embora faz-me sentir dentro de um comboio prestes a descarrilar em direcção a um assustador penhasco. Eles continuam no bar de veludo pele de tigre a fazer a sua festa e a derreter os olhos na minha empregada de olhos azuis e roupa interior negra rendada. A Jin Hee continua com a sua bebida a meio e a Anne a fazer gestos obscenamente franceses para a câmara. Podia estar com eles mas não estou. Passo agora pelas barracas cobertas de lona do mercado de natal, pela fonte dourada que permanece iluminada, pelas enormes portas de madeira que me embalam para casa com uma voz de fada a cantar-me ao ouvido. Sempre com a voz dela a cantar-me ao ouvido, a dizer que volte. A fada traquina que num abrir e fechar de olhos pode desaparecer. Não desapareças. E já está, agora é ele que pega na guitarra e canta, canta baixinho mas num tom certeiro, e pede para que eu me continue a divertir, mas que volte pela noite quando acabar de sentir a vida na pele. Está bem, eu volto. Porque sim, tenho muito de novo para contar, penso para os meus botões. Mas agora ainda aqui estou, olho o banco molhado e sento-me por um bocado a encher o vazio do parque. Um corvo resistente ao sono pula ao meu lado, insistindo em fazer um pouco de companhia. É a ele que hoje conto as minhas confusões. É a ele que explico como é incrível a quantidade obscena de saudades que vou ter de tudo isto. A quantidade estúpida de saudades que já tenho. E no entanto, ele bem vê, este sorriso detém-se incontrolável.

#32

Nuremberga, 4 de Dezembro de 2007

Vamos lá percorrer os factos mais recentes da minha vida. Há uns mais básicos. Coisa boa. Ter pegado na máquina do espanhol e repetido a façanha de Fevereiro. Ele volta a crescer. Coisa não boa. O frio nas orelhas, mesmo com o gorro bem enfiado na cabeça. Coisa boa. O mercado de Natal no centro da cidade, é delicioso e apaixonante, mas merece um texto só para ele. Coisa não boa. Os voos para Portugal durante este mês custam mais do que fazer um interrail. Coisa boa. Um interrail custa menos do que voar para Portugal, e Narvik é já ali ao virar da linha. Isto significa que, a manter esta quase-ideia, vou ter de continuar a poupar na cerveja.



Depois há uns mais extraordinários. Coisa boa. Pela primeira vez em noventa dias tomei um banho na minha casa de banho sem ter água pelos gémeos. Confesso que me estava a acostumar a isto de ter os pés em constante imersão sempre que pela manhã me enfiava de baixo do chuveiro, mas bem vistas as coisas, aquele grito final da canalização da minha casa que decidiu fazer crescer uma fonte romana do ralo de escoamento pedia medidas extremas. Felizmente o senhor Hausmeister, que desde o primeiro dia em que eu reclamei pelo estado artístico da cozinha me tem vindo a detestar, teve o bom senso de arranjar a canalização. Conclusão, hoje a água escoou direitinha e eu não tive de imaginar que raio de bicho esquisito e peludo deveria estar no meio dos canos a entupir a passagem de água.



Coisa não boa. A magnífica bateria do meu iPod decide durar aproximadamente treze minutos. Isto significa que a minha cabeça anda a bater por tudo o quando é sitio. É especialmente sufocante aquela altura em pleno início de corrida em que os Flaming Lips se calam quando me estavam a marcar passo, e eu fico a correr no vazio, cara de cú entre as orelhas, a pensar para onde raio foi a música, e como pode a bateria esvaziar em tão curto espaço de tempo. Gosto de ouvir música durante o dia. Alias, preciso e ouvir música durante o dia. Os meus passeios inúteis e despreocupados pela cidade não são os mesmos sem a Nina Simone a sussurrar-me coisas bonitas aos ouvidos. Esta coisa da bateria do meu iPod ter dado o berro é intragavelmente preocupante. E o pior é que não estou a ver como é que vou solucionar este problema.



Coisa boa. Hoje fui tomar o pequeno almoço com o Luís, a Ana, o Nuno e o Quelhas. Já os tinha visto ontem à noite no aeroporto e hoje apareceram-me à janela como felizes proprietários de um vaivém espacial da Chrysler que não lhes queria devolver a chave às mãos. A Ana queria Starbucks e eu fiz-lhe a vontade, junto ao Pegnitz, acho que tirando o facto de serem extremamente preguiçosos e se queixarem dos cinco minutos (!) que andaram a pé, gostaram do que viram. Agora devem andar a cirandar por Dresden. Eu cá os espero, no fim de semana, para lhes mostrar com calma a magia da minha pequenina cidade. A contrastar com isto, de vocês, tirando a Xica e a minha Vaca, nem um postal recebo. É que nem um. Diz que a morada é Sophienstraße 12-00-27 90478 Nürnberg, Alemanha. Mas se calhar é mentira, porque eu já a dei e o que é certo é que tirando os supracitados, correspondência só mesmo a do LIDL e do Deutsche Bank. Que vos caiam morangos a ferver em cima. A todos vós.



Coisa não boa. É que se fosse só o iPod. Mas não. E pior que o iPod? Pois claro, o portátil. O meu portátil meteu-se nos ácidos. Vai daí, a imagem parece tiradinha de uma sessão de Joaninha na terra dos Cogumelos Mágicos. É que sem tirar nem por, o computador enlouqueceu. Mal o ligo, o ecrã fica branco. É que devia ficar preto, não? Não, fica branco. E depois o branco desvanece e torna-se um preto com muitas nuvens brancas. Eis que entra o Windows em acção e neste momento o meu magnifico LCD transforma-se em LSD e oferece-me o seu melhor azul-aberração. E a partir daqui é ver a taxa de refrescamento a passar-se da cabeça, as sombras a desaparecerem e os dois bonecos do Messenger a ficar da mesma cor. O Messenger. Sim, essa coisa que há uma semana deixou de funcionar, a fazer companhia ao Skype. Sempre que os ligo, lá se vai a Internet. Da última vez durou vinte e quatro horas sem ligação. Conclusão? A juntar aos três trabalhos que tenho para fazer esta semana, o outro trabalho que não sei se tenho de fazer ou não, as confusões todas que o estágio está a causar, ainda tenho que levar com um conjunto de circuitos de dois mil euros a passar-se dos cornos. Ele há dias de cão.



Mas porque as coisas boas acabam sempre por fazer esquecer as não boas, coisa boa. Mas esta, sem ter de juntar mil palavrinhas que voam com o vento que existe entre aqui e ai. Até amanhã (:

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